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Goiás Tec: revolucionando a educação rural com tecnologia e ensino especializado

Com novas tecnologias e professores de estúdio especializados, o Goiás Tec está mudando a forma de aprender nas escolas rurais, criando novas possibilidades para o futuro dos estudantes do campo.

 

Escrita por: Laura Cáceres

 

Durante a pandemia da COVID-19, escolas e faculdades adotaram o ensino online, muitas vezes marcado pela falta de interação significativa entre professores e alunos, exceto em casos isolados em que alguns professores insistiam para que os alunos ligassem a câmera e participassem ativamente. Nesse período, ficou evidente que o ensino remoto, por si só, nem sempre alcança resultados eficazes. No entanto, o programa Goiás Tec, que foi oficialmente lançado durante a pandemia de 2020, apresenta uma proposta completamente diferente dessa realidade. 

 

O Goiás Tec surgiu com o objetivo de educar crianças e adolescentes do campo – seja de assentamentos, quilombos, ou famílias agrícolas. É um programa de ensino mediado pela tecnologia, que visa proporcionar as mesmas oportunidades de ensino que têm as crianças de escolas urbanas. Com a presença de professores de estúdio especializados em cada disciplina e de professores presenciais que acompanham os alunos diariamente, o Goiás Tec apresenta uma dinâmica que combina tecnologia e aprendizado, formando os estudantes do campo e entregando a eles todo o material necessário para uma educação plena e de qualidade. 

 

A metodologia do Goiás Tec valoriza a diversidade e a inclusão, adaptando-se às realidades dos alunos por meio da atuação conjunta de professores presenciais, que conhecem profundamente o contexto dos estudantes, e professores de estúdio, que pesquisam e planejam aulas capazes de conectar os universos rural e urbano. O programa também oferece suporte prático aos estudantes, incluindo uniformes, materiais didáticos e um Chromebook.

 

Além disso, conta com as Eletivas — projetos desenvolvidos individualmente por cada turma, voltados para abordar e superar dificuldades específicas que os alunos possam enfrentar. 

 

A professora e coordenadora da SEDUC/GO, Daniela de Souza Ferreira Mesquita, formada em letras e pedagogia pela UEG (Universidade Estadual de Goiás), com especialização em educação inclusiva, afirma que hoje, o Goiás Tec tem 685 turmas em 37 regiões do estado de Goiás, sendo mais de 10 mil estudantes que já participam da metodologia. O projeto atende estudantes do ensino médio e as turmas de oitavo e nono ano do ensino fundamental. Segundo a professora, ainda não se sabe sobre a eficácia do método de ensino para turmas mais novas, e portanto o projeto de incluir o Ensino Fundamental dois não tem previsão, apesar de haver pedidos. Nas turmas que já estão inclusas, porém, o programa se provou eficaz, tendo alunos bem formados e já ingressantes nas universidades. 

 

"Hoje, além de alcançarmos um excelente resultado no IDEB, temos orgulho de ver nossos estudantes ingressando na universidade. Eles estão cursando jornalismo, matemática, biologia, agronomia — um curso bastante procurado —, medicina veterinária e até medicina. Temos, por exemplo, um aluno que concluiu a terceira série e conseguiu ingressar em medicina com sua nota do Enem", destaca a coordenadora pedagógica da SEDUC/GO. Goiás é o Estado que está em primeiro lugar no IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, e a escola que tem a melhor proficiência do Estado, o Colégio Estadual Aurelice Gomes da Fonseca, faz parte do Goiás Tec. 

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Imagem estúdio de aula do Goiás Tec

 

 

Desafios enfrentados 

Embora o Goiás Tec tenha alcançado sucesso em muitas escolas rurais, ainda enfrenta desafios significativos e resistência de quem não se adaptou ou não aprovou a metodologia. Apesar de oferecer recursos como televisores de 60 polegadas e kits multimídia, a principal dificuldade, segundo a professora Daniela de Souza, está na infraestrutura das escolas no campo, especialmente no acesso limitado à internet. Em algumas regiões, os professores presenciais precisam fazer o download das aulas previamente para apresentá-las aos alunos. Essa limitação reduz a interação direta entre os professores de sala e os de estúdio, dificultando o esclarecimento de dúvidas por parte dos estudantes e comprometendo a dinâmica de ensino. 

 

A EFAGO (Escola Família Agrícola de Goiás) é um exemplo de escola que não se adaptou muito bem ao Goiás Tec. A instituição funciona com a Pedagogia da Alternância, que consiste na estadia dos alunos parte na escola e parte com suas famílias, de modo que há uma interação entre o aprendizado na sala de aula e no campo e a realidade de cada aluno em suas comunidades. Com um restrito acesso à internet, os professores presenciais acham difícil ministrar as aulas. 

 

A educadora Zildete Albuquerque de Sá, que media as aulas da segunda série na EFAGO, diz que seu maior desafio é manter os alunos atentos e interessados nas aulas gravadas, já que a tecnologia do Goiás Tec não é eficaz em uma escola sem internet, e portanto os professores utilizam pendrives para apresentar as aulas. Além disso, ela sente que está sendo substituída como profissional, já que agora o seu papel não é mais dar aula, e sim mediar as aulas de estúdio. 

 

A professora técnica da EFAGO Pollyane Pereira também afirma que as aulas do Goiás Tec não dialogam com a realidade do campo e com as aulas práticas realizadas na escola. “As aulas de estúdio não têm a vivência necessária que os estudantes precisam para aproximar um pouco mais aquele conteúdo ao cotidiano deles. De fato, o Goiás Tec não contempla a educação no campo”.

 

Os alunos da escola também demonstram opiniões parecidas, afirmando que é mais difícil prestar atenção em uma aula gravada do que com o professor presencialmente dando a aula. Segundo o estudante de 16 anos, Moisés, do primeiro ano do Ensino Médio, as aulas do Goiás Tec conseguem acompanhar os conteúdos das aulas práticas no campo, porém ele diz que preferia o modelo antigo de aula, com professores presenciais. “É ruim de adaptar. Você não tem o foco. Então, por mais que você queira prestar atenção na aula, é bem difícil por conta de ser uma vídeo-aula. Eu acho que com o professor explicando seria mais fácil de aprender.” 

 

A aluna Alessandra Caetano, do segundo ano do Ensino Médio, também fala sobre a sua adaptação ao programa Goiás Tec. “Eu ainda estou me adaptando, tem quase um ano já e eu ainda não me acostumei. Porque não é a mesma coisa, a gente estuda 24 horas olhando para uma televisão, então você não tem um diálogo entre professor e aluno. A televisão liga e o professor mediador vai passar as atividades que o professor na televisão deixou. No Goiás Tec, você vai escutar o que o professor falou e se você não entendeu, acabou. Você vai perguntar para a professora mediadora e ela vai saber te falar algumas coisas, mas não tudo.” Ela ainda diz que com a implementação do Goiás Tec, diminuíram as aulas práticas que eles têm na escola, “tem vez que é só televisão mesmo. Aí só na parte das 17 horas que a gente vai no campo.” 

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Imagem de uma sala de aula na EFAGO

 

Diante das críticas, a professora e coordenadora pedagógica da SEDUC, Daniela de Souza, reforça que o objetivo do programa não é substituir os professores presenciais, mas garantir que as escolas do campo tenham acesso a profissionais especializados em cada disciplina — algo que muitas escolas rurais enfrentam dificuldades para conseguir. "O sucesso do Goiás Tec é claro e indiscutível. Cumprimos os 200 dias letivos, e sempre há aula. Se um professor de estúdio precisar se ausentar, outro é prontamente escalado para substituí-lo. Esses profissionais são especialistas no currículo e sabem exatamente o que precisa ser feito", afirma Daniela. Além disso, ela acredita que a presença do professor em sala de aula é indispensável para o funcionamento da metodologia do Goiás Tec, já que é aquele profissional que vai estar em contato com o aluno e conhecendo todas as suas dificuldades. 

 

Sobre as limitações no acesso à internet, Daniela explica: "Atualmente, a Seduc já conta com vários programas para levar internet às escolas. Inicialmente, é oferecida uma verba para que a escola contrate o serviço disponível na região. No entanto, em algumas localidades, não há oferta de internet. Para resolver isso, já estão em andamento projetos que buscam instalar antenas capazes de levar conexão às salas de aula, garantindo que o programa possa funcionar plenamente."

 

 

A falta do Goiás Tec nas escolas rurais 

 

O programa Goiás Tec tem seus pontos fracos e fortes, mas também é um projeto que se tornou essencial para muitas escolas rurais. A ausência do programa pode impactar negativamente a qualidade do ensino oferecido, especialmente nas escolas de áreas mais remotas. A estudante formada por uma escola de campo no município de Piracanjuba, Arielly Rodrigues, conta como foi a sua experiência em uma escola rural que, na época, não contava com o Goiás Tec como metodologia de ensino. Ela relata: “Minha experiência não foi das melhores em termos de ensino, porque havia uma grande escassez de professores, por isso, acabei perdendo muito conteúdo. Vejo o Goiás Tec como uma alternativa, pois, sendo as aulas remotas e ao vivo, eu não perderia a oportunidade de continuar estudando.”

 

Arielly também descreve como a falta de professores era uma realidade constante: “Quando era segunda e quarta-feira, havia aula de Educação Física. Se os professores faltavam em um desses dias, o professor de Educação Física acabava levando essas turmas para a aula dele. Havia dias em que eu ia à escola e só assistia a uma aula, enquanto passava o restante do tempo jogando futebol.” 

 

A professora Daniela de Souza reforça que o Goiás Tec não foi criado para escolas urbanas, mas sim pensado especialmente para as rurais, que enfrentam, com maior frequência, a falta de professores especializados. Ela explica: “Uma escola urbana dificilmente enfrentaria esse tipo de problema, pois são as instituições de ensino nas áreas rurais que muitas vezes estão em locais de difícil acesso para os educadores.” 

 

O futuro do Goiás Tec 

 

Quanto ao futuro do programa, Daniela de Souza revela que uma das principais metas é resolver os desafios relacionados à conectividade, um problema que ainda afeta algumas instituições. “Temos trabalhado intensamente para garantir que as aulas sejam ao vivo, pois, nesse formato, os dois professores ficam em contato direto com os alunos, podendo esclarecer dúvidas e interagir com eles. Não posso garantir que isso esteja 100% perfeito, mas posso afirmar que, com o que vivemos até agora no Goiás Tec, estamos avançando significativamente. O objetivo é integrar ainda mais os estudantes, para que eles participem ativamente das aulas, tirem dúvidas e façam perguntas durante o conteúdo.” 

 

A coordenadora conclui: “Eu acredito que a palavra 'diversidade' resume bem o Goiás Tec, pois não há uma fórmula única. Aqui, a regra é oferecer a melhor aula possível, e isso significa adaptar o conteúdo às necessidades da comunidade, seja indígena, quilombola, dos assentamentos, ou do entorno de Brasília. O Goiás Tec precisa estar presente onde for necessário.”

 

 

Reportagem produzida para a disciplina 'Produção de texto jornalístico II' sob a supervisão da professora Erica Neves.

Categorias: laboratorio multimídia Jornalismo