Redes sociais e o amadurecimento precoce de meninas pré-adolescentes

Especialistas explicam como a maquiagem e os influenciadores podem colaborar para o desejo de amadurecimento das jovens 

A pré-adolescência é uma transição da infância para a adolescência, porém com o acesso cada vez mais precoce às redes sociais, essas meninas são expostas constantemente a conteúdos de maquiagem e cuidados com a pele, o que leva elas ao desejo de amadurecer mais rápido e a idealizar a mulher e não a menina. Isso é visto na vida de Franciele, filha de 11 anos de Marilene Rosa dos Santos. A mãe relata: “todo lugar que a Franciele vai ela quer se maquiar e passa de tudo que você pode imaginar, quer ser mais adulta do que a gente.” Marinele ainda comenta que sua filha passa muito tempo em aplicativos como o Instagram e TikTok e pensa que isso influencia na vaidade da menina. 

Como essas redes podem influenciar as meninas? 

A psicóloga infanto juvenil, Dra. Ester Brígida Dourado de Padua Tavares explica que “essa exposição constante a essa quantidade de conteúdo relacionada a beleza, a moda, a maquiagem, os influenciadores que se tornaram espelhos, são vistos como um modelo de comportamento. O conteúdo manipulado que muitas vezes são editados e as crianças não tem noção muitas vezes, ou até tem mas

acreditam que esse é o certo, que esse é o padrão, mas é um padrão irreal de beleza.” Ester ainda acrescenta que pelo fato de os pais não terem muito tempo para passarem juntos de suas filhas, eles acabam permitindo o acesso muito cedo às redes sociais, o que leva os conteúdos online a se tornarem uma influência predominante na vida de suas filhas. 

O poder dos influenciadores e as consequências da maquiagem 

Maquiadora há dez anos e com 4 mil seguidores no instagram, Marcela Elois produz conteúdo focado em maquiagem, auto maquiagem e cabelo. Por mais que seu público alvo e majoritário sejam mulheres adultas, suas publicações alcançam meninas pré-adolescentes e ela entende o impacto que seu trabalho pode causar nessas meninas. 

“Eu tento ter um pouco de cuidado porque acaba que cria uma projeção em cima daquilo dali, de achar que a gente tem que estar o tempo inteiro daquela forma” destaca Marcela. 

Para ela é significativa a diferença da relação das meninas com a maquiagem hoje em dia comparado com antigamente, porque as meninas já estão muito antenadas no assunto e já sabem as técnicas básicas da maquiagem. 

Esse interesse crescente pelos produtos de beleza fizeram com que pais que apoiam essa vaidade de suas filhas consultassem Marcela sobre qual produto seria o mais indicado e menos prejudicial para a pele de pré-adolescentes. No entanto, a dermatologista pediatra, Dra. Bárbara Alvim pontua que a Sociedade Brasileira de Dermatologia condena o uso de produtos como maquiagens, séruns e máscaras faciais por pré-adolescentes. Ela explica, “pode causar inflamações na pele, pode levar a lesões e pode levar a dermatite de contato que vai impedir essa criança de usar uma maquiagem no futuro por ter várias substâncias químicas. E algumas maquiagens possuem disruptores endócrinos que podem ser responsáveis por uma puberdade precoce”. Bárbara ainda acrescenta que muitos desses produtos, principalmente os de cuidados com a pele, contém substâncias que

muitas vezes essas meninas ainda não precisam, o que pode causar danos à pele delas. 

O mercado da beleza 

Segundo a Research and Markets, loja especializada em pesquisa de mercado, há uma previsão de crescimento de 6,5% até 2027 do mercado de maquiagem infantil impulsionado por esse grande interesse das meninas por produtos de beleza. E de acordo a pesquisa realizada pela Kantar, consultoria especializada em dados e insights, houve um aumento expressivo no número de adolescentes e crianças da geração alfa usando produtos de beleza de 2022 para 2023, a máscara de cílios, por exemplo, cresceu para 20% em 2023 comparado com o ano anterior. 

Isso começou com grande força nos Estados Unidos, onde se deu início a uma onda em que meninas de 9 a 12 anos vão a lojas de maquiagem e buscam por produtos que veem nas redes sociais, e esse comportamento já pode ser observado em lojas brasileiras. E ao perceber uma oportunidade de aumentar o seu público, marcas criam linhas de cosméticos direcionadas a essas jovens e fazem um grande marketing nas redes sociais, porém ainda é preciso ficar atento à composição desses produtos, mesmo que sejam específicos para meninas mais novas. 

As consequências para a saúde mental e o papel dos país 

Esses comportamentos trazem possíveis consequências para a saúde mental das jovens, uma vez que o cognitivo e o emocional delas não estão preparados para essas atitudes da maturidade feminina. Segundo a psicóloga Dra. Ester, isso “pode gerar crises de ansiedade, pensamentos disfuncionais, que são aquelas comparações, os complexos, pode levar a transtornos alimentares, ao desenvolvimento de depressão, sentimento de inadequação e baixa autoestima.” 

E a especialista dá algumas dicas de como os pais devem agir para prevenir esses tipos de consequência: a comunicação aberta sobre aceitação, sobre os sentimentos dessas menina é essencial, discutir sobre os padrões irreais, fazer atividades que incentivam a confiança dessas meninas como esportes e lazer, elogiar características não físicas como a bondade e a inteligência, mostrar o risco desses produtos para a pele delas, tentar ser o principal e positivo exemplo para a

sua filha e por fim monitorar, mas sem invadir, o que acessam na internet mostrando que você quer proteger, ver se é adequado ou não para a idade delas e entender o que elas estão pensando. 

Mãe de Sofia de 11 anos, Sara Maria Vieira, presta muita atenção nessas possíveis consequências e tenta explicar para sua filha que ainda vai chegar o tempo dela. “Ela vê nas redes sociais e acha bonito e quer copiar, porque ela quer estar na moda, aí eu falo que ela ainda não está na idade e que ainda vai chegar o tempo dela, mas essas meninas de hoje, principalmente a minha filha, elas não entendem que a gente quer é proteger elas desse excesso.” relata Sara.

Por: Rafaela Silva Fonseca

Reportagem produzida para a disciplina 'Produção de texto jornalístico II' sob a supervisão da professora Mariza Fernandes.

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