O LADO BOM DO ÊXODO RURAL
Entrevista sobre a ida para a metrópole com Hilda Gonçalves, uma mulher da roça que vivia com esperança de mudança
Produzido por: Bárbara Rigonato
Muito se fala hoje em dia sobre as consequências que o êxodo rural causou, como a superlotação das cidades, a poluição e o crescente número de moradias em locais informais. Mas em um olhar mais singular, vê-se pessoas que tiveram suas vidas transformadas e melhoradas pela saída do interior.
Como Hilda, uma humilde cearense de 80 anos, que atualmente mora em Goiânia. Ela fala com orgulho sobre sua saída do município de Tauá na década de 70. Ela saiu em viagem com seu marido e filhos, deixando a vida rural em busca de uma realidade melhor.
Hilda Gonçalves, outubro de 2024.
Como era a vida da senhora lá? Com o que a senhora trabalhava?
Ah, era difícil, trabalhava muito em roça com meu pai. Era muito filho que ele tinha, 17 comigo e ele ainda criou um outro bocado. Todos nós trabalhávamos na roça. Era muito difícil, Ave Maria.
A senhora conheceu seu esposo lá? Qual o nome dele? Ele também queria se mudar?
Conheci o Raimundo em Nazaré, ele é do Ceará também. Ele trabalhou no recenseamento, ele fez o recenseamento do Ceará, aí depois ficou sem emprego. Ele também trabalhou em comércio,mas o comércio era fraco lá, aí a gente concordou de vir morar em Goiânia. Mas nós moramos primeiro em Brasília.
Qual foi a maior dificuldade que a senhora acha que vocês passaram nesse processo?
Ter que vender tudo lá pra ter dinheiro pra mudar, mas eu não tinha apego nas coisas, se eu tivesse eu nem tinha vindo (risos).
A senhora teve apoio da sua família para se mudar?
Eu lembro que meu pai não queria que nós viesse, ele falava ‘que que você vai ver nesse mundo que você não conhece ninguém?’. E eu falava ‘que que nós vamo fazer aqui?’, as escolas era fraquinha demais lá. Eu dizia ‘os estudo de lá fora deve ser melhor’. Eu mesmo não estudei, meu pai só tirava três meses por ano pra nós estudar, e eu dizia ‘eu não quero criar meus filhos do jeito que eu fui criada’.
Como foi vir pra metrópole em meio às dificuldades financeiras? Como foi a vida quando vocês chegaram?
Ave Maria (risos), foi muito difícil, fomos de carona na camionete do amigo do Raimundo, aí foi ele quem trouxe nós. Quando a gente chegou em Brasília aí eu fui fazer marmita pros rapaz que trabalhava nas loja, e o Raimundo trabalhava numa loja de calçados, e eu ganhava mais dinheiro que ele (risos), aí nós tinha mais um dinheirinho juntado.
Por que a senhora e seu marido escolheram Goiânia? Como foi quando chegaram? Ele veio primeiro sozinho olhar, pra ver, aí ele voltou pra Brasília animado dizendo que aqui era bom. Eu falei ‘Raimundo, (risos) já tá tão difícil, a gente já fez tanta mudança’, ele só falou ‘não, mas lá é bom’, e eu disse ‘então vamo’. Aqui, quando chegou, nós construímo um bar e nossa casa, graças a Deus.
Como a senhora lidava com a saudade da sua família? A senhora pensava em trazer eles pra cidade grande também?
Eu pensava nos meus irmão, ligava pra eles lá, mas não tinha condições da gente trazer eles. Uma vez minha mãe veio visitar a gente, ficou uns quatro meses aqui em casa, mas ela não queria morar aqui de jeito nenhum (risos), ela não queria deixar o interior. Ela já era acostumada lá e eu não forcei muito a barra.
A senhora acha que foi a decisão certa ter vindo pra cidade grande? Foi, foi, foi! Quando nós chegamos em Brasília foi bom demais, eu ganhava mais dinheiro. Foi melhor pros meus filhos, aqui eles tinham estudo, estudaram em Brasília e estudaram aqui em Goiânia também. Muito melhor.
A senhora voltaria a morar lá?
Não, não. Eu gosto da vida aqui, eu acostumei aqui. Gosto mais daqui (risos).
Hilda Gonçalves em sua casa em Goiânia, outubro de 2024.
Entrevista produzida para a disciplina "Produção de texto jornalístico I" sob a supervisão da professora Mariza Fernandes.
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