
Oito décadas da proibição, a dois anos da Copa do Mundo
Por: Lara Fabian
O país do futebol enfrenta uma era de incertezas na seleção masculina. Não se fala muito sobre a Copa do próximo ano, nem se implica muita esperança em um nome destaque para trazer o hexa. Esse nome existe, claro, mas o Neymar tem enfrentado um período delicado de lesões e a seleção se aproxima do mundial cada vez mais fragilizada. Quem acompanha o dia a dia do Esportudo, provavelmente anseia mais por 2027: A Copa do Mundo de futebol feminino, que vai ser realizada aqui.
É curioso pensar que, por quase quatro décadas, a mulher brasileira era proibida, por lei, de praticar futebol e outros esportes considerados contrários à sua natureza feminina. Em 14 de abril de 1941, há exatos 84 anos, um decreto-lei estadonovista era assinado por Getúlio para que o símbolo nacional e masculino não fosse alcançado por mulheres, a quem eram destinados apenas os lenços de torcedoras. A justificativa era o possível comprometimento de uma biologia sensível a esportes considerados violentos. Isso nos leva a refletir sobre os recordes do país do futebol feminino, se pensarmos individualmente.
Em 2019, Formiga se tornou a atleta que mais disputou Copas do Mundo na história, entre homens e mulheres. Cristiane foi reconhecida, em 2024 pelo Guiness, como a maior artilheira dos Jogos Olímpicos. Marta foi eleita seis vezes, cinco consecutivas, a melhor do mundo. Entre todo escopo biológico, e assim como Formiga e Cristiane, o único comprometimento de Marta e das muitas Martas por aí foi com os recordes.
Daqui a 2 anos o Brasil sedia a Copa do Mundo de Futebol Feminino. O Estado não é novo, mas recebe um paralelo extremo do que foi definido há exatos 84 anos, naquele 14 de abril. O que fica é como o país do futebol tem tratado a modalidade que vai torná-lo vitrine internacional em 2027. Esses 84 anos podem e deveriam servir para essa reflexão. O futebol feminino é uma realidade que não se pode mais ignorar, porque existe e, mais que isso, fortalece o produto no país. Corinthians, Cruzeiro e Ferroviária são provas disso, e, no caso do alvinegro, é a modalidade que se sustenta e leva o nome do time à frente, seja com venda de atleta entre as maiores da história ou do recorde de público anual a cada final de Brasileirão.
O que fica, das oito décadas de uma proibição legal e a dois anos de ser palco do maior evento do futebol, é como o Brasil tem se tornado, também, o país do futebol feminino? Ou melhor, o que falta para isso?