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Violência contra jornalistas: um ataque à democracia

Por: Anna Letícia Epaminondas Saraiva

O jornalismo vive um paradoxo no Brasil: nunca foi tão necessário, e nunca esteve tão ameaçado. Em um cenário em que a desinformação se espalha com velocidade nas redes sociais, o papel do jornalista é mais essencial do que nunca para garantir o direito da sociedade à informação verdadeira. No entanto, aqueles que se dedicam a apurar os fatos, verificar fontes e desmentir as famosas fake news têm sido alvo crescente de ataques físicos e verbais.

Entre 2019 e 2022, os casos de violência contra jornalistas cresceram 328%, segundo o relatório “Silenciando o mensageiro: os impactos da violência política contra jornalistas no Brasil”, publicado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O ano de 2022 foi o mais violento para a imprensa desde o início das medições, com 557 registros de ataques em apenas 12 meses. Já em 2023, o número total de episódios caiu, mas a gravidade aumentou. Entre janeiro e maio, 46,8% dos casos envolveram ameaças graves, agressões físicas e destruição de equipamentos, superando, pela primeira vez, as ocorrências de violência exclusivamente verbal.

A escalada da violência contra profissionais da imprensa não é um fenômeno isolado. Ela é reflexo de uma cultura que deslegitima o jornalismo, alimenta discursos de ódio e normaliza o confronto contra a verdade factual. A substituição de jornalistas por influenciadores nas mídias digitais e tradicionais, sem o mesmo compromisso ético e técnico com a apuração, contribui para esse cenário. Ao confundir opinião com informação, parte da sociedade rejeita os fatos que desafiam suas crenças e direciona sua frustração aos mensageiros.

Reafirmamos com veemência: atacar jornalistas é atacar a democracia. Um país que não protege seus comunicadores abre mão do debate público e da transparência. Defender o jornalismo não é defender um grupo profissional, é defender o direito de todos à informação livre, plural e segura.

Não há democracia sem imprensa livre. E não há imprensa livre sem segurança para seus profissionais.