Precisava? - Branca de neve (2025)
Por: Guigo Borges
Quase 90 anos depois do seu lançamento, a primeira princesa da Disney e principalmente, o primeiro filme de animação da história, Branca de Neve, chega aos cinemas em março de 2025 em uma nova roupagem, agora em live-action. E levanta o questionamento, toda animação precisa de uma versão?
Dirigido por Marc Webb e escrito e reescrito, sabe-se lá quantas vezes por Greta Gerwig e Cressida Wilson (A Garota do Trem), a adaptação traz mudanças importantes em relação ao clássico de 1927. A primeira e mais notável é o protagonismo de Branca de Neve, que assume, de fato o papel principal da história e não apenas uma donzela indefesa que espera ser salva por um príncipe - que agora não existe mais e foi substituído por um ladrão que luta pelos pobres à la Robin Hood - ela quem luta pelos cidadãos e salva o reino das feitiçarias da Rainha Má. Os setes anões, que agora não recebem mais esse nome após polêmicas de que a Disney reforçaria os estereótipos de pessoas com nanismo, perderam seu espaço no título do filme e os atores escalados também perderam seus papéis para “criaturas mágicas centenárias” feitas por efeitos especiais, mas que ainda mantém o semblante e características semelhantes ao clássico. Ao colocar o espectador a par das polêmicas mudanças, o filme começa.
Em relação à dupla principal, Branca de Neve, interpretada por Rachel Zegler, e Rainha Má, interpretada por Gal Gadot, o desastre já era anunciado dentro e fora das telas. Nascida em Israel, Gadot tem usado suas redes sociais de forma ativa para expressar sua defesa dos ataques israelenses contra o estado palestino, enquanto isso, Zegler sempre foi enfática em seu posicionamento pró-Palestina. O clima péssimo entre as duas atrizes nos bastidores ficou evidente durante o Oscar 2025, onde as atrizes apresentaram a categoria de “Melhor Figurino” lado a lado, mas sequer trocaram olhares e muito menos, conversas ou abraços.
A antipatia da dupla fora das telas se refletiu no filme. A química entre a princesa e sua madrasta é praticamente inexistente. Rachel Zegler já mostrou do que é capaz atuando e cantando em “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, da franquia Jogos Vorazes e nesse filme, ela repete seu bom desempenho musical, apesar de má dirigida em alguns números musicais, onde a atriz parece estar em uma peça da Broadway, dando tudo de si, enquanto os outros personagens não estão à mesma altura no palco. Por outro lado, enquanto a jovem atriz está em um tom, Gal Gadot está totalmente em outro. A atuação da atriz de Mulher Maravilha como Rainha Má, uma das maiores vilãs das animações, é totalmente caricata e engessada. A imponência e o medo que a personagem transmite no clássico é apagado, especialmente nas cenas onde há o embate entre heroína e vilã e a diferença entre as atuações é gritante. Além das cenas que antecedem os números musicais da vilã que se assemelham a um barril de pólvora prestes a explodir, claramente inferiores aos números da Branca de Neve.
A parte técnica também é um caso à parte. A direção de arte dos figurinos, do cabelo e da maquiagem dos personagens também não se salva, além do design de produção sofrido, mal executado e evidentemente falso que se assemelha ao um filme de baixo orçamento, o que é contraditório já que os 209 milhões de dólares investidos no filme não fazem juz a uma parte técnica inferior a outros live-actions da própria Disney, como Cinderela (2015) e Aladdin (2019), onde a magia e grandiosidade do estúdio são evidentes desde os pequenos detalhes dos cenários aos figurinos de brilhar os olhos do público.
Branca de Neve de 2025 é um filme com momentos bons (e raros) em meio ao projeto mal executado que nos traz ao conceito de “fadiga de live-actions”. Um cansaço por parte de nós, o público, ciente da exagerada produção de adaptações de filmes animados clássicos da Disney e consciente da sensação de que todo o tempo o filme está apenas “recheado” com pequenos novos elementos em vez de serem genuinamente re-imaginados. Talvez seja a hora de parar e pensar, “nós realmente precisamos desse filme?” e enfim, parar. Mesmo que seja por um tempo apenas, mas é preciso.
Categories: Entretenimento Artigo de Opinião