A urgência da representatividade de mulheres na política
Por: Julhia Mendes
Ao ser eleita presidenta do Brasil em 2010, Dilma Rousseff se tornou um marco simbólico e histórico para a política brasileira. Sua presença no cargo mais alto do Executivo trouxe visibilidade para a luta das mulheres em espaços de poder e seu impeachment, marcado por um julgamento político controverso, escancarou o machismo estrutural que ainda permeia o cenário político nacional. Em pleno século 21, em uma sociedade conectada, tecnológica e informada, a baixa representatividade feminina na política segue sendo um dos reflexos mais gritantes do patriarcado enraizado em nossas instituições desde a colonização.
Segundo dados do IBGE, as mulheres representam 51,5% da população brasileira, totalizando aproximadamente 104,5 milhões de pessoas. Apesar disso, ocupam menos de 18% das cadeiras no Congresso Nacional, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Essa discrepância é alarmante. Como esperar políticas públicas eficazes para a população feminina se as vozes femininas continuam sendo minoria nas decisões que impactam diretamente suas vidas? Quando mulheres acessam o poder legislativo ou executivo, não é apenas uma vitória individual, é uma afirmação coletiva de que o espaço político também nos pertence.
Nos últimos anos, especialmente com o fortalecimento das redes sociais, temos assistido ao surgimento de vozes femininas empoderadas, independentes e influentes que estimulam outras mulheres a se reconhecerem como protagonistas. Um exemplo é Erika Hilton, que, em 2022, tornou-se a primeira mulher trans e negra eleita deputada federal por São Paulo, conquistando 256.903 votos. Sua eleição representa um marco na luta por diversidade e inclusão no cenário político brasileiro.
A presença feminina nas últimas eleições, com candidaturas sérias e viáveis, reforça essa transformação. Ainda que a desigualdade persista, ela já não passa despercebida. A mulher na política não deve ser vista como exceção, mas como parte de um processo natural de democratização e equidade.
Ocupando esses espaços, deixamos de ser vistas apenas como cuidadoras do lar ou objetos sexuais, estereótipos que ainda nos são impostos. Passamos a nos reconhecer como agentes políticas, capazes de transformar a sociedade com leis e políticas públicas pensadas para todas. A cada pequena vitória, deixa-se um legado de luta e resiliência para as próximas gerações.
A mudança é urgente e precisa ser contínua. Precisamos de mais mulheres decidindo, legislando, governando não apenas para equilibrar números, mas para tornar a política mais justa, diversa e representativa de fato. Em um país com maioria feminina, isso é um direito e não um favor.
Texto produzido para a disciplina de Produção de Texto Jornalístico III sob a orientação da professora Erica Morais Ribeiro Neves