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O Pior dos Dois Mundos

Urbanismo goianiense tem o trânsito de uma metrópole e o lazer de interior

 

Por: Maria Eduarda Arruda

 

Voltar de viagem morando em Goiânia é sempre um choque. Mais do que em qualquer lugar que já visitei (que em defesa da capital goiana, não são muitos), a cidade não é convidativa para ocupá-la. Mesmo estando em uma região privilegiada, não possuo parques em uma distância andável para ler, caminhar, ou até mesmo só existir.

 

Durante minha estadia no Rio de Janeiro, conheci diversas pessoas que passaram por Goiânia como turistas, e que voltaram para casa amargurados por não terem feito muita coisa. Claro! Todo o lazer goianiense é baseado em dinheiro e conhecer a pessoa certa – para te indicar aquele rolê mal divulgado ou para te receber na casa dela. O que a cidade tinha de mais perto de criar uma vida noturna democrática, se dissipou por incomodar a vizinhança (vide Beco, Meio Bar ou Zé Latinhas). 

 

Durante o dia é pior ainda! Não existe o que fazer sem um amigo com churrasqueira, sem ser sócio de algum clube ou algo parecido. O que um turista sem essas conexões pode descobrir de interessante na cidade? Sentar no Parque Vaca Brava para um piquenique ao som de viadutos? Andar de bicicleta nas ciclovias com demarcação de tinta que não garantem segurança alguma?

 

O Rio obviamente possui seus próprios problemas, a desigualdade e estratificação sociais restringem o acesso a esse tipo de lazer, principalmente, aos residentes da Zona Sul. Goiânia já é mais democrática: ninguém tem onde ir para ler um livro ao ar livre. 

 

Ainda assim, na capital fluminense, existem eventos que abarcam pessoas de outros contextos sociais, como a roda de samba na Pedra do Sal, que acontece tradicionalmente na segunda-feira por ser o dia de folga dos trabalhadores, os museus gratuitos, os bailes nas comunidades periféricas, etc. São Paulo, Belo Horizonte e Salvador também estão muito à frente no quesito de democratização do lazer. Se Goiânia é uma das cidades que cresce mais rapidamente no país, porque o planejamento urbano não é uma prioridade?

 

Para mim, a resposta é o individualismo. O coletivo jamais é pensado quando a cidade é colocada em pauta, o lazer é considerado frívolo, mesmo sendo essencial para uma construção de comunidade. Não permitem interditar uma rua para ciclistas aos domingos como acontece no Eixo Monumental em Brasília pois os motoristas são a prioridade máxima. Não permitem festas na rua pois os moradores da região são a prioridade máxima. E no final, só consegue se divertir quem é financeiramente capaz, e Goiânia segue sendo lembrada como uma cidade “sem nada para fazer”. 

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