Diplomacia para Americano Ver
Animosidade entre Casa Branca e Itamaraty nos reserva a chance de crescer como país
Por João Pedro Bolzam
A soberania de um país não é um adorno retórico, mas o alicerce de sua dignidade e da capacidade de decidir seu próprio destino. Quando forças externas tentam interferir em decisões internas, seja por meio de pressões econômicas, diplomáticas ou políticas, o que está em jogo vai muito além de divergências momentâneas: trata-se da própria essência da independência nacional. É justamente esse o ponto central da tensão recente entre o Brasil e o governo do presidente Donald Trump, cuja política externa, cada vez mais agressiva, tem ultrapassado os limites da diplomacia e tocado em assuntos que pertencem unicamente ao Estado brasileiro.
A imposição de tarifas de cinquenta por cento sobre produtos brasileiros, acompanhada de declarações que questionam o funcionamento das instituições do país, revela mais do que uma disputa comercial. É uma tentativa de submeter o Brasil a uma lógica de subordinação política, na qual decisões soberanas passam a ser vistas como mercadorias negociáveis. Quando um chefe de Estado estrangeiro condiciona relações econômicas ao comportamento de ministros do Supremo Tribunal Federal ou às decisões de um governo democraticamente eleito, ele não está mais discutindo economia, está afrontando o princípio da não intervenção e, com ele, a própria noção de soberania.
As tensões com Washington reacendem um debate antigo, mas sempre atual: até que ponto o Brasil está disposto a sustentar sua autonomia diante das potências? A história mostra que, sempre que abrimos concessões em nome da conveniência, pagamos caro depois. O risco agora é que essa escalada de provocações, se não for enfrentada com firmeza e inteligência, acabe por corroer não apenas a economia, mas também a imagem do país como ator político capaz de se posicionar de maneira independente no cenário internacional. Ceder a pressões desse tipo seria admitir que nossa política interna pode ser ditada de fora, e que nossa justiça, nossos tribunais e nossas decisões soberanas estão sujeitos à aprovação de outra bandeira.
O governo brasileiro, ao reagir, deve fazê-lo com serenidade, mas também com altivez. Diplomacia não é submissão. É preciso manter o diálogo aberto, mas deixar claro que há limites que não podem ser ultrapassados e que o respeito mútuo é a base de qualquer relação entre nações. Um país que abdica de defender sua soberania por medo de retaliação comercial corre o risco de perder algo muito mais valioso do que qualquer contrato de exportação: a dignidade de seu próprio Estado.
Essa crise, na verdade, é um teste. Testa nossas instituições, nossa coesão política e nossa capacidade de reagir como nação. Se o Brasil souber enfrentá-la com unidade, poderá sair fortalecido, reafirmando ao mundo que é possível defender princípios sem romper com a diplomacia. Mas se permitir que a chantagem disfarçada de pragmatismo prevaleça, deixará aberta a porta para novas ingerências, mais graves e mais profundas. A soberania, uma vez enfraquecida, não se recompõe facilmente.
Em tempos de globalização e interdependência, pode parecer antiquado falar em soberania com tanto fervor. No entanto, é justamente quando tudo parece negociável que ela se torna mais essencial. O Brasil precisa mostrar que está disposto a dialogar, mas não a se curvar; que quer comércio, mas não tutela; que busca parcerias, não protetores. Soberania não se defende com bravatas, e sim com firmeza institucional, clareza diplomática e, acima de tudo, consciência nacional. Porque um país que não é dono de si mesmo não é respeitado por ninguém.
Reportagem produzida para a disciplina "Produção de texto jornalístico III" sob a supervisão da professora Erica Neves.
Kategorien: Opinião crise política