Mailson Costa

Mailson Costa: Superação e Empreendedorismo em Meio à Crise Pandêmica

História do profissional de Educação Física é exemplo de resiliência diante da crise emocional e financeira provocada pela Covid-19.

Por: Luan Alves 

Mailson Costa
Imagem: Instagram/Reprodução

A pandemia da Covid-19 e o isolamento social marcaram a história recente mundial e, com certeza, serão lembrados por gerações. No Brasil, a crise não foi diferente: com mais de 30 milhões de casos registrados desde o início da emergência sanitária, cerca de 98% das prefeituras adotaram medidas de isolamento social,

impactando profundamente a economia e a saúde mental da população. Mailson Costa, professor de Educação Física formado pela PUC-GO, foi uma das pessoas que enfrentaram desafios tanto financeiros quanto psicológicos durante esse período. 

Quem é Mailson? 

Mailson Costa Rodrigues nasceu em 1988, na cidade de Araguaína, no Tocantins. Criado no interior de seu estado natal, aos 21 anos decidiu mudar sua vida ao se mudar sozinho para Goiânia. Movido pela paixão pela Educação Física, ingressou no Vestibular Social da PUC-GO, onde iniciou sua graduação em 2012 e concluiu o curso em 2016. Desde então, Mailson tem atuado como personal trainer e especialista em treinamento funcional, conquistando espaço em academias no centro da capital goiana. Atualmente, com 36 anos, Mailson Costa aplica aulas de treinamento funcional em sua própria casa, onde atende pouco mais de 15 alunos semanalmente. 

O Impacto da Pandemia 

Em março de 2020, a chegada da pandemia ao Brasil trouxe mudanças drásticas para milhares de profissionais dos mais variados setores. Para Maílson, não foi diferente. Apaixonado por suas aulas funcionais, Mailson precisou interromper suas atividades e aderir ao isolamento social. À época, os treinamentos funcionais representavam mais de 50% de sua renda fixa, e com isso, Mailson precisou se reinventar financeiramente para sobreviver. 

“Com a pandemia, duas coisas aconteceram em relação aos meus negócios. A primeira foi o fato de eu não poder trabalhar com Educação Física, seja com musculação convencional ou até mesmo com treinamento funcional. Aqui em Goiânia, nós ficamos basicamente sete meses com tudo fechado. Estava funcionando somente as atividades essenciais, como hospitais, farmácias, supermercados e postos de combustível. Então, eu passei praticamente sete meses com a empresa fechada, sem ter receita nenhuma. Então posso dizer hoje, que o impacto financeiro que ele (isolamento social) me causou foi muito grande, muito grande mesmo. Até hoje eu ainda trabalho para suprir dívidas que foram geradas com a pandemia”, relata Mailson. 

O profissional adaptou suas aulas para ambientes ao ar livre, respeitando os protocolos sanitários, como distanciamento social e uso de máscaras, algo que não durou muito tempo. Nesse período, Mailson contou com o apoio financeiro de sua mãe, que é costureira, para atravessar esse período de dificuldades. 

A luta contra a ansiedade e a depressão 

O cenário de instabilidade financeira afetou grandemente a saúde emocional de Mailson. O personal relata que, por nunca ter enfrentado algo semelhante e pelas dificuldades econômicas, começou a sofrer crises de ansiedade que impactaram diretamente sua saúde mental. No fim de 2020, o profissional de Educação Física foi diagnosticado com ansiedade e depressão, passando a fazer uso de medicações para tratar os transtornos. 

A situação retrata bem os dados de saúde mental que surgiram durante o período pandêmico. Segundo estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a pandemia de Covid-19 desencadeou o aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo. Kézia Barbosa, Psicóloga Clínica (CRP 09/014222) procurada pela nossa reportagem, explicou como as dificuldades econômicas agravaram a saúde mental dos indivíduos durante a pandemia: 

“Os maus hábitos em relação à administração financeira das famílias puderam levar a altos níveis de estresse, tristeza, inseguranças e até mesmo a comportamentos de desentendimentos e discussões.” 

A profissional ainda ressaltou a importância da educação financeira para momentos de instabilidade econômica. 

“Pensando nisso, a educação financeira é fundamental para a construção do bem estar e qualidade de vida de todos aqueles que integram o núcleo familiar. O conhecimento e a boa gestão da economia pessoal e familiar podem contribuir para uma vida mais saudável, incluindo os momentos de crises e desastres”, afirma Kézia.

 

Vínculo Familiar 

Histórias como a de Mailson foram comuns no período de paralisação e as formas de lidar foram variadas. Para o professor de Educação Física, valorizar os vínculos emocionais e familiares foi fundamental para este processo. 

“A depressão em si te afasta de muitas pessoas.. A pessoa depressiva sente vontade de se afastar de todo mundo, de se isolar. E assim, eu particularmente vejo a questão da base familiar, mãe e pai principalmente, né? Eu, na época, conversava muito sobre isso, e minha mãe sempre foi uma pessoa que se preocupou muito comigo”, afirma Mailson. 

Apesar do relato, uma pesquisa realizada pela PoderData mostrou que 31% dos brasileiros avaliaram que a relação familiar piorou desde o início da pandemia de Covid-19 e complicou os laços emocionais nesse período de convivência intensa. Apesar do dado alarmante, um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o vínculo familiar pode ser considerado um dos possíveis espaços do provimento de cuidado, podendo assim ser necessária e aliada no cuidado de seu familiar em sofrimento psíquico. Kézia Barbosa, entrevistada pela nossa equipe de reportagem, também fala a respeito da importância de vínculos em momentos de instabilidade emocional, mas não descarta a possibilidade de psicoterapia no tratamento da doença. Ao ser questionada sobre as atividades e práticas recomendadas àqueles que ainda sofrem com transtornos psíquicos causados pela pandemia, a profissional de Psicologia valorizou a troca de interações, criando assim oportunidades para ouvir histórias e experiências de enfrentamentos, mas ainda pontuou que, se necessário, o indivíduo deve procurar a ajuda de um profissional. 

Estratégias de enfrentamento 

Assim como pontuou Kézia, o vínculo emocional com amigos e familiares foi muito importante para que Mailson conseguisse superar os desafios psíquicos enfrentados durante o período de paralisação. Mas para além dos fatores emocionais, o profissional precisou criar estratégias para vencer a instabilidade financeira atravessada. Diante disso, Mailson inovou. Retomando uma ideia que surgiu no ano de 2019, Mailson abriu uma República Universitária, onde abriga até hoje estudantes vindos de outros centros para estudar e tentar a vida na grande Goiânia. O personal se sente orgulhoso da ideia, uma vez que diz oferecer aquilo que ele tanto quis quando se mudou para o estado de Goiás: uma moradia digna, com valor acessível e que pudesse contemplar o sonho de estudar fora de sua cidade natal. Além da República, Mailson retomou suas atividades de treinamento funcional, inicialmente em um estúdio próprio com o nome de Squadrão Fit. Devido aos altos custos, pouco tempo depois, o Personal passou a dar aulas no próprio quintal de casa, onde até hoje atende pouco mais de 15 alunos diariamente. 

Atualmente, com os dois negócios funcionando normalmente, Mailson é exemplo de empreendedorismo e se diz orgulhoso da trajetória que construiu ao longo desses anos. 

“É muito gratificante poder estar vivenciando tudo isso. A República e as aulas funcionais me ajudaram e proporcionaram que eu pudesse voltar a me encontrar emocionalmente. Ainda tomo todo o cuidado necessário, faço tratamento, tomo remédios, mas no geral, sinto muito orgulho de toda a minha trajetória”, conclui Mailson. 

 

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Imagem: Instagram/Reprodução

O profissional, atualmente com 36 anos, considera ter vencido os problemas emocionais e sua história de superação e empreendedorismo é exemplo de resiliência emocional e sucesso profissional.

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