Hotel

O Pedágio da Hospitalidade

Preços abusivos em hotéis e praias transformam o encanto em decepção - e deixam a hospitalidade brasileira com má reputação.

Por: Felipe Cordeiro

Nos últimos dias, muito se falou sobre os preços dos hotéis em Belém e região. As diárias chegaram a cifras que beiram o inacreditável: até seis mil reais em alguns casos, mesmo em hospedagens sem luxo algum. Para tentar conter o abuso, o governo já fala em multa de 100% do valor faturado. No entanto, a sensação é de que o estrago já foi feito: fica a impressão de que a porta da cidade se abre com um pedágio salgado demais, e a fama de persona no grata vai se propagando sem fim. 

O impacto disso não pesa só no bolso. Pesa também na imagem. Imagine o estrangeiro que pisa no Brasil pela primeira vez e, em vez de se encantar com a cultura e a hospitalidade, se assusta com preços que mais parecem pegadinhas. É como ser recebido com um sorriso, mas com a carteira sendo puxada ao mesmo tempo. Além disso, o país acaba se afundando mais ainda nessa fama de terra sem lei. 

E não é apenas Belém ou São Paulo que anda exagerando na esperteza. No Rio de Janeiro, especialmente em Copacabana, vendedores ambulantes têm protagonizado cenas semelhantes. Caipirinhas por R$85, um simples guarda-sol por R$150, milho cozido por R$200. O cartão-postal mais famoso do país acaba abrigando práticas que transformam o turista em vítima de um truque mal disfarçado. 

O problema não está no comércio em si, mas na falta de limites e uma fiscalização e penalização mais branda. O visitante aceita pagar mais caro em certos lugares, afinal, viajar envolve gastar. Mas existe uma linha tênue entre cobrar o justo e a enganação. Quando essa linha é ultrapassada, o passeio se converte em armadilha, e a lembrança da viagem passa a ter gosto amargo. 

No fim, todos saem perdendo. O turista, que se sente enganado. A cidade, que mancha sua reputação. E o próprio país, que perde a chance de mostrar sua verdadeira riqueza: a cultura, a alegria, a diversidade e a beleza natural. Enquanto a esperteza seguir valendo mais do que a experiência, vamos continuar colecionando histórias que não deveriam ter sido escritas — 

mas que acabam virando crônica.

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