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As tradições indianas de casamento se modernizam no século XXI A prática do dote entra em decadência em uma sociedade em transição

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As noivas indianas usam vestidos chamativos e decorados, diferente das ocidentais – Foto: Reprodução 

 

O vestido é colorido e vibrante, não branco, e, ao invés de um véu, a noiva usa jóias na testa, orelhas e nariz, com padrões elaborados de henna desenhados nas mãos. Mas, além das diferenças óbvias, como a aparência, os casamentos indianos se diferem dos ocidentais por muitas outras tradições, que incluem as casamenteiras e o dote, esse que, por mais que ilegal, ainda é cobrado com frequência. 

Essas tradições milenares são parte importante da cultura e família dos indianos há séculos, mas vêm se modernizando nas últimas duas décadas pela chegada de novas tecnologias e por uma nova geração, mais liberal, que enfim atinge a idade adulta. A não adesão ao dote representa a modernização principal, pois rompe com um padrão cultural há muito praticado. 

Cultura do casamento 

O casamento na Índia se destaca pela maneira particular de união dos noivos. A participação efetiva da família na escolha do par ideal proporciona maior cuidado na procura por uma vida melhor para os que se casam. “É importante, pois você consegue achar alguém que coincida com os valores que você procura e com a forma de vida que você tem. É uma segurança de que você terá uma vida melhor”, diz a médica Monika Gajbhe.

A questão da casta também é um fator importante para a formação do par, já que a busca se concentra em encontrar um parceiro que se adeque ao máximo à forma de vida do pretendente. Segundo Monika, o casamento entre castas é incomum, porque as pessoas tendem a se casar com outros da mesma realidade social. Já Amol Khandelote, seu irmão, considera o preconceito sofrido por casais inter-castas como o principal fator. 

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Cerca de 90% dos casamentos da Índia são arranjados - Foto: Reprodução

 

Já o casamento arranjado é uma tradição indiana positiva, visto que o benefício seria esse encontro do par ideal de forma mais rápida, ainda que “esquisito, já que todos vão saber que você está no processo de achar um parceiro”, como destaca Amol. A questão negativa relativa à cultura do casamento indiano, porém, é o dote, uma prática que abre pretexto à violência contra a mulher e que deve ser combatida.

Dote 

Estatísticas oficiais de criminalidade na Índia demonstram que o número de crimes violentos associados ao dote aumentou nos últimos anos. O número de feminicídios relacionados à prática, de 6.851 em 2001, passou para 8.233 em 2012. Esse número pode demonstrar, também, que o caráter ilegal do dote estimulou o aumento da frequência dos registros de queixa e dá mais visibilidade ao teor negativo desta cultura. 

Outro tipo de violência que eclode do dote é o aborto seletivo. Um estudo da ONG americana Invisible Girl estima que entre 5 e 7 milhões de fetos do sexo feminino sejam abortados todos os anos na Índia, pois representariam gastos às suas famílias. A decisão de abortar com base no sexo do bebê também é crime no país, mas a prática é muito comum. 

Os dados apresentados são o reflexo do pensamento social. Enquanto Monika destaca que as mulheres não valorizam a tradição do dote, principalmente porque vivem toda realidade discriminatória decorrente daquela, Amol diz que muitos homens ainda pensam no dote como parte essencial do casamento. 

Paralelos 

O casamento indiano e o casamento ocidental têm suas semelhanças, já que ambos representam a união de duas famílias, que devem abençoar o matrimônio. O único detalhe é que, na Índia, esses parâmetros funcionam como um processo a ser seguido de maneira explícita, enquanto essas tradições ocorrem de maneira implícita no ocidente. 

A prática do dote também é um ponto em comum entre as duas realidades, dado que fez parte da tradição de diversos países no passado, como o Brasil e a maioria dos países do oeste europeu. O dote foi parte da sociedade do Brasil Império e era praticado principalmente pela elite, como forma de legitimar sua reputação ou como uma antecipação da herança, destaca a historiadora Heloisa Starling. 

Seja por questão cultural e econômica ou por tradição e religião, os laços entre o casamento no ocidente e no oriente são estreitos, apesar de certas particularidades. De todo modo, não deixam de representar uma união que visa ser duradoura e que acrescente algo aos envolvidos, principalmente se a busca for por um futuro melhor. 

Modernização 

As tradições indianas sobrevivem, mas não sem mudanças. Enquanto décadas atrás o uso de casamenteiras humanas ou de “Agências de casamento” fosse comum, hoje grande parte dos casamentos são arranjados através da internet. Aplicativos matrimoniais são úteis quando se quer um noivo ou noiva com um perfil ou rotina específica, já que usam a detalhada Biodata, uma compilação de dados pessoais usada na seleção de um par.

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Muitos relacionamentos começam pela internet, como o de Monika e Bharatbhushan – Foto: Acervo pessoal/Monika Gajbhe 

A Doutora Monika Gajbhe teve o casamento arranjado pela mãe por meio de um aplicativo matrimonial. Foi o uso do aplicativo que permitiu que ela, através da biodata, encontrasse um candidato da área de medicina, que tivesse uma rotina compatível com a de Monika e que fosse compreensivo com sua vida profissional. Estão casados há 5 anos e têm um filho pequeno, uma prova de que o moderno e o tradicional podem coexistir para o bem.

 

Escrito por: Gabriel Fróes e Letícia Carvalho

Matéria produzida para a disciplina 'Produção de texto jornalístico II' sob a supervisão da professora Mariza Fernandes.

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