
Políticas de alimentação livre de agrotóxicos no prato de cada dia
Extrativistas do meio rural, quilombolas e indígenas estão entre os beneficiários de políticas de auxílio à agricultura familiar.
O investimento na agricultura orgânica do Estado promove a alimentação saudável e a sustentabilidade e é solução para o preocupante consumo de agrotóxicos, apesar disso, programas em prol da agricultura familiar não chegam até às famílias produtoras. O fato de o Brasil ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) não impede que este tenha mais preconceito com alimentos não belos aos olhos e sem agrotóxicos, do que rejeição aos belos e cheios de químicos causadores de doenças.
Os produtos orgânicos, que são cultivados livres de agrotóxicos, apesar de não possuírem o brilho que se assemelha ao de uma maçã de um conto de fadas, são mais saudáveis e menos prejudiciais à saúde. O chamado “preconceito alimentício” por quem é da área da produção de cultura orgânica, se refere ao preconceito estético com frutas, verduras e legumes produzidos a partir da exclusão de pesticidas e respeito ao solo, produções que ao não utilizar de químicos que causam mal ao solo e à saúde perdem a mutação que configura beleza e tamanho ideal visado pelas prateleiras dos supermercados.
Apesar do cenário citado, a visão para o futuro não só da agricultura mas também do comércio brasileiro é positiva, mas pede por melhorias. Programas como o Pronaf e a PNAE incentivam uma alimentação mais saudável no prato e limpa para o meio ambiente, por meio de subsídios para os agricultores, inserindo essas colheitas orgânicas em órgãos públicos, nas escolas e no mercado em todo o estado. Além da influência direta, políticas como estas ajudam a amenizar no âmbito nacional problemas indiretos a nível global: aquecimento global, contaminação do ar, contaminação dos solos e da água.
O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar) é um dos destaques de especialistas na área da agricultura familiar. A coordenadora do projeto Agro Centro - Oeste, professora e doutora em Agronomia pela UFG, Graciella Corcioli, destaca: “nós desenvolvemos políticas de comercialização diferenciada, garantia de preço mínimo para os produtos, seguro rural e uma série de políticas públicas voltadas para esses agricultores para impulsionar essa produção e manter essas famílias no campo de maneira que elas vivam bem: produzam, comercializem, tenham renda e emprego.”
No entanto, a professora destaca ainda, que apesar do bom número de políticas públicas, estas não chegam para o agricultor familiar. Então sua existência e sua eficácia são perdidas com a falta do alcance de quem a lei busca atender.

Um exemplo dessa inoperância seria o crédito rural que não chega até as famílias assentadas. O Crédito é um financiamento disponibilizado pelo Banco Central do Brasil a fim de custear a safra de diversas segmentações da agricultura nacional, uma delas a da Pronaf, que enquadra os variados subprogramas dentro da agricultura familiar.
O Pronaf visa gerar renda para as famílias e grupos beneficiários do programa, além de industrializar, e melhorar a mão de obra livre de agrotóxicos nacional. As famílias assentadas – aquelas que vivem do trabalho da agricultura e dependem da ação da reforma agrária para adquirir um imóvel rural – tiveram maior inclusão a partir de uma mudança proposta pelo Conselho Monetário Nacional que permitiu que o registro no nome de algum assentado se tornasse válido para a inclusão no Programa.
A solução ideal para multiplicar o acesso à essas políticas públicas em todos os cantos do Brasil seria: de médio a longo prazo, o investimento na educação formal e básica, para que haja o acesso à informação sobre os direitos que essas famílias e grupos possuem; e de curto prazo, uma assistência técnica rural para que todas as famílias, em todas as regiões, dos quilombolas, indígenas, pescadores, extrativistas e todo esse público que é considerado agricultor familiar tenham suas demandas atendidas.
Além do Pronaf, famílias assentadas como a de Andressa Martins, agente de informação local, usufruem do PNAE. O Programa Nacional de Alimentação Escolar consta que ao menos 30% dos alimentos destinados à alimentação nas escolas do Estado devem ser de agricultura familiar, a fim de promover a inclusão produtiva e incentivar a alimentação mais saudável de crianças e adolescentes.
A família de Andressa, do Assentamento Serra (Pires do Rio - GO), o primeiro criado pelo Incra Goiás a partir de 2017, destaca que o maior desafio do modo de produção orgânico é o escoamento desses produtos, ocasionado pela beleza, ou a ausência dela nas frutas e verduras. O fator estético abre espaço para que o Programa seja um grande incentivo no ganho com as produções, fora as vendas nos territórios próximos.
No caso dessa família e outras mais do mesmo assentamento, o território de vendas mais próximo é Caldas Novas (a 87km de Pires do Rio). Andressa, por fim, destaca que apesar de não vencer os clientes pela estética, o sabor acentuado prende a clientela. A principal venda da família Martins é de frutas como melancia, abacaxi e banana.

Sob a visão do consumidor, José Carlos, construtor e o responsável pelas compras da casa, os valores de produtos da feira (onde a maioria dos produtos advindos de agricultura familiar vão parar) e do supermercado (produções em larga escala e majoritariamente com uso de algum tipo de maquinário de grande porte e pesticidas) variam de acordo com a época, mas o preço acaba sendo mais baixo nas feiras por um pequeno diferencial. Apesar do valor, José prioriza vendas da região e diretamente com os produtores rurais.
Tanto Andressa, quanto a professora Graciela, explicaram este efeito dos valores de forma complementar. A moradora do Assentamento Serra justificou os baixos valores com a venda iniciante e regional. Já a professora da Escola de Agronomia, e coordenadora do projeto Agro Centro - Oeste, explicou que os produtos por não possuírem a forma de defesa convencional, devem possuir um selo orgânico. Apesar da proposta, de haver um selo, ser ideal e positiva para a quebra de estereótipos e desconfianças com produtos que não usam do veneno agroindustrial, a política falha mais uma vez ao elevar o preço da aquisição por parte do produtor rural por parte das seladoras.
A proposta de criação de projetos para a ampliação da agricultura familiar é essencial, mas de pouco serve a quantidade de políticas de auxílio e certificação se não acompanhadas da expansão do real agro que coloca a comida no prato de cada dia. Em apoio às diversas formas de agricultura familiar, a Agro Centro-Oeste Familiar (ACOF) – que ocorrerá entre os dias 4 e 7 de junho de 2025, na Universidade Federal de Goiás – é uma iniciativa de apresentação dos produtos orgânicos das famílias produtoras por meio da exposição, de rodas de conversa e da venda. A ACOF atua dando visibilidade para as famílias há mais de 20 anos e conta com o apoio da FUNAPE (Fundação de Apoio à Pesquisa)
Escrito por: Nicolly Fernandes
Reportagem produzida para a disciplina 'Produção de texto jornalístico II' sob a supervisão da professora Mariza Fernandes.
Categorias: Jornalismo laboratorio multimídia